quarta-feira, 5 de abril de 2017

O passo a passo para salvar uma vida

Ministério da Saúde e FAB são parceiros para ajudar pessoas que precisam de um transplante de órgão em todo o país
Aeronave C-98 Caravan da Força Aérea Brasileira (FAB)
Quem espera por um transplante está sempre lutando contra o tempo. A mesma coisa ocorre com o órgão que é retirado para ser transplantado. O tempo de isquemia, período que o órgão sobrevive sem circulação sanguínea, é geralmente muito curto, e cada minuto conta.
Mas para que o transplante ocorra dentro do prazo esperado e com segurança, é preciso seguir um processo complexo, que deve ser rápido e eficiente. E a parceria entre o Ministério da Saúde, a Força Aérea Brasileira (FAB), e as companhias aéreas comerciais é essencial para garantir o sucesso da operação. O Blog da Saúde organizou um passo a passo sobre esse processo. Confira:
1 – Para que um indivíduo seja considerado apto a doar os órgãos, é necessário que o Hospital confirme a morte encefálica. Em seguida, a Central de Transplantes do Estado é notificada, como manda a lei, e a família do potencial doador é consultada a respeito da vontade e autorização de doar ou não os órgãos.
2 – Se a família autorizar a retirada dos órgãos, a Central de Transplantes do Estado fica encarregada de gerar uma lista de receptores para cada órgão que será doado. Pode ser fígado, pulmão, coração, rins, pâncreas, intestino ou córneas. Também é marcada a cirurgia de retirada dos órgãos em conjunto com o Hospital.
A Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde (MS) explica que quando ocorre uma doação no estado a Central Estadual, por meio do Sistema Informatizado de Gerenciamento (SIG), gera uma lista de receptores compatíveis. “A posição na lista de espera é definida basicamente pela compatibilidade sanguínea, pela gravidade, pelo tempo em lista do receptor, e em alguns tipos de transplantes por compatibilidade genética, peso e altura. Os pacientes também podem ser enquadrados nas chamadas “situações de urgência” ou “priorização”, conforme situações que agravam a condição clínica do receptor levando-o ao risco de morte iminente”, conforme explica a SNT.
3 – Depois que a cirurgia é agendada, a Central de Transplantes Estadual fica encarregada de organizar a logística para o transporte dos órgãos que serão retirados, para que cheguem dentro do prazo ao local onde está o receptor. Entretanto, pode acontecer de não haver nenhum doador compatível no local. “Se isso acontecer, o órgão é ofertado para os demais Estados dentro da respectiva macrorregião. Não havendo receptor na macrorregião, o órgão é distribuído nacionalmente, sendo estas duas últimas situações gerenciadas pela Central Nacional de Transplantes”.
4 – Levando em conta a Lista Única Nacional e os critérios pré-estabelecidos de compatibilidade de um doador com um receptor e identificada a melhor opção, é hora de escolher qual a melhor maneira de transportar o órgão. Pode ser por terra (carro) ou por ar (avião). É o tempo de isquemia que determina o meio de transporte, pois esse prazo varia de órgão para órgão. Um coração, por exemplo,  pode sobreviver fora do corpo humano em temperatura de resfriamento adequada entre 4h e 6h. Entretanto, um pâncreas pode ficar entre 12h e 24h a espera do receptor.
5 – A Força Aérea Brasileira pode ser acionada para auxiliar o transporte caso o tempo de isquemia seja curto. Desde junho do ano passado, um decreto presidencial determina que haja sempre uma aeronave a disposição para estes casos. A FAB explica que um profissional da CNT coordena a distribuição nacional e o transporte aéreo de órgãos a partir de Brasília, por meio de um Centro de Operações em funcionamento 24 horas. A partir daí, verifica-se qual aeronave poderá ser utilizada e de qual Unidade Aérea, e emite-se uma Ordem de Missão para realizar o planejamento da missão e o voo.

Outro suporte também é feito através do controle de tráfego aéreo, priorizando voos relacionados ao transporte de órgãos. Aeronaves de matrículas civis, inclusive estrangeiras, que estejam no espaço aéreo brasileiro em quaisquer situações nas quais vidas humanas possam ser salvas, têm todo o apoio dos profissionais de controle de tráfego para tornar os voos mais curtos.
Assista aqui o resultado da parceria do Ministério da Saúde com a FAB:
6 – O acionamento da FAB sempre vai ser a última opção, quando todas as outras de transporte já estão esgotadas e não são possíveis, e isso ocorre apenas no Centro de Operações do Comando de Preparo (COMPREP), localizado em Brasília. Nesse local, atua o Oficial de Comando e Controle (OCC), que recebe o pedido da CNT com todas as informações referentes ao local do doador e do receptor, bem como as condições do órgão a ser transplantado.
7 – Todo o fluxo de acionamento das missões FAB segue as diretrizes da Central Nacional de Transplantes, o que resulta cada vez mais em transplantes de sucesso. A Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde (MS), reforça também que “a garantia da disponibilidade integral de uma aeronave da FAB para o transporte de órgãos e tecidos foi de grande importância principalmente para o transporte de órgãos de tempo de isquemia curto. Além disso, as aeronaves possuem maior autonomia para pousar em pistas e aeroportos menores, o que possibilita uma maior mobilidade em municípios pequenos”.
Histórias de Vida
O piloto do Sexto Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA 6), Esquadrão Guará, 1° Tenente Aviador, Renan da Silva de Souza, conta que realizou no dia 9 de fevereiro de 2017 uma missão de transporte de um fígado que saiu de Belém (PA) para Rio Branco (AC). Ele lembra que a missão começou às 18h20 em Brasília, e acabou apenas às 7h30 da manhã quando chegou a Rio Branco com o órgão e a equipe. “Após muitas horas de envolvimento e mais de 5.500 km voados, eu me senti extremamente realizado e emocionado. Essa história me marcou porque o paciente poderia não resistir devido ao longo tempo de espera para receber o órgão. Terminei a missão muito alegre e com sensação de dever cumprido”.
Tenente Renan (terceiro da direita para esquerda) com equipe responsável pelo transporte de um fígado até Rio Branco (AC). Foto: Arquivo Pessoal

Para Renan, também não há dinheiro que possa pagar a sensação de saber que o voo, que em outros momentos pode parecer algo simples, tem a missão de salvar uma vida. “Saber que com a nossa contribuição uma pessoa receberá um órgão e que poderá retomar com sua vida normal, sua rotina, seus sonhos e objetivos nos deixa muito orgulhosos e motivados para cumprir tantas missões quanto forem necessárias, seja voando de madrugada, seja nos finais de semana ou feriados. Sei que cada vida é sagrada e que não existe maior retorno do que ajudar a quem precisa. Participar deste tipo de missão, me orgulha ainda mais de pertencer à Força Aérea Brasileira”.
Fonte: Aline Czezacki, para o Blog da Saúde com informações da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Central Nacional de Transplantes (CNT).

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